sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Plano Municipal da Mata Atlântica na COP21

Vivian Maitê Castro, é colaboradora do projeto Mata Atlântica nas escolas e trabalha na SOS Mata Atlântica. Recentemente, ela foi à Paris apresentar um trabalho sobre a Políticas Públicas de Planos Municipais da Mata Atlântica, que começou em João Pessoa. Conheça essa história, na entrevista para o blog.

Blog: Como começou o seu interesse pela proteção e conservação da Mata Atlântica?

Vivian: O interesse começou com o conhecimento sobre o impacto que as cidades têm na Mata Atlântica brasileira. Me engajei num movimento ambientalista em João Pessoa, trabalhei em ONGs, e com a professora Lígia Tavares, que me estimulou a ter uma visão crítica sobre a questão ambiental. Depois fui trabalhar com ela na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na área técnica quando resolvi também fazer Mestrado no Prodema – UFPB, onde trabalhei o Ambientalismo nas políticas públicas, sobretudo na cidade de João Pessoa, e daí não saí mais.

Blog: Fale um pouco sobre a sua experiência na defesa da Mata Atlântica na Paraíba

Vívian: Existem alguns movimentos antigos, pouca coisa recente, e a minha experiência é de poucos militantes, sempre os mesmos, que permanecem na batalha, fazendo as manifestações. A gente tem a adesão de poucos jovens nas manifestações e nas brigas propostas na cidade. Infelizmente, o Ambientalismo é uma questão pouco abordada nas áreas de estudo e dentro da sociedade de uma forma geral, e por isso acaba sendo mais difícil atrair pessoas para o movimento. Pela dissociação que existe entre as pessoas e o ambiente, elas acham que estes são problemas externos e outras coisas são focos principais. E a minha experiência é trabalho de formiguinha de conscientização, de conversar, de falar.

A defesa da Mata Atlântica, efetivamente, começou na Secretaria de Meio Ambiente com a elaboração do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, que foi o primeiro do Brasil, e foi levado como exemplo pra outros municípios no país. Esse plano foi feito em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica, que fazia uma mobilização pouco expressiva e quando João Pessoa fez o primeiro modelo de plano, nos unimos com a ONG para viajar para outros municípios e levar esse exemplo, fomentando os planos municipais. E isso deu tão certo que cinco anos depois entrei na SOS para fazer a mesma coisa.

Blog: Quer dizer que o município de João Pessoa tem uma relevância no cenário da conservação da Mata Atlântica no Brasil?

Vívian: Sim, tem uma relevância importante. Já estavam ali todas as metas feitas pelo governo municipal para a conservação e recuperação da Mata Atlântica, só que fomos prejudicados pelas mudanças políticas que promovem a descontinuidade dos projetos. João Pessoa é sempre mencionada na SOS Mata Atlântica e em outros municípios que se basearam em nosso Plano. Estamos agora no momento de revisar o plano pra que ele volte a ser implementado pois, infelizmente está parado.

Blog: Na sua opinião, como se encontra o estado de conservação da Mata Atlântica atualmente na Paraíba?

Vívian: Bem mal. Em João Pessoa, a gente encontra grandes fragmentos, que eu chamo de pequenas florestas, como a Mata do Buraquinho, Altiplano Cabo Branco, nas áreas do Jacarapé e Aratú, mas não temos arborização urbana suficiente e pequenos fragmentos são desmatados para a expansão urbana.

Mas eu tenho uma notícia boa, a SOS está lançando este mês de dezembro um site chamado ‘Aqui tem Mata?’. É um site que traduz numa linguagem popular os dados do atlas de remanescentes, da SOS. Daí você digita com o nome da sua cidade e o link informa quantos habitantes tem, quanto de Mata Atlântica tem restante, acima de três hectares, e quanto isso equivale em tamanho de estádios do Maracanã. Quando fui testar o site, cliquei João Pessoa e Pau Dalho (cidade de Pernambuco), pequenininha, que tem 15 vezes mais Mata Atlântica que João Pessoa. Fiquei chocada, porque todo mundo fala que João Pessoa é uma cidade verde, mas quando você clica, aparecem só dois ou três estádios do Maracanã!

Blog: Nós sabemos que você está indo a Paris (COP21) apresentar um trabalho sobre a Mata Atlântica. Você pode falar sobre isso?

Vívian: É um trabalho voltado para a questão do ambientalismo no Brasil e de como aconteceu a formulação da Constituição de 1988 e a Lei da Mata Atlântica, que é fruto do movimento ambientalista e os planos municipais da Mata Atlântica, que são o primeiro requisito para a conservação da floresta. Então, eu vou apresentar um pouco do que eu aprendi no Mestrado com o trabalho que eu faço atualmente na SOS, com os resultados obtidos neste primeiro ano do programa de municípios mobilizados para a realização do Plano da Mata Atlântica, que é um planejamento ambiental para pensar as cidades sustentáveis a partir do ambiente e não da infraestrutura. Será apresentado na Conferência da Juventude, em sua 11ª edição, que acontece antes da Conferência oficial do Clima, e ela tem uma programação bem vasta relacionada a temáticas ambientais.

Blog: Qual a relação entre Plano Mata Atlântica e as mudanças climáticas?

Vívian: O Plano municipaliza a responsabilidade sobre o meio ambiente, processo que já aconteceu em outras cidades da Europa, onde os municípios tem autonomia e segurança para fazer o planejamento urbano. E o Plano mostra que a cidade precisa ter o olhar para a questão ambiental, para não ter crises no futuro, como a da água, engarrafamentos que promovem a poluição e que poderiam ser evitados com um planejamento prévio. A gente acha que uma pequena mata não faz diferença na questão da temperatura, e na verdade faz: nós temos níveis de temperatura diferentes dentro da cidade de João Pessoa, por exemplo, o bairro de Manaíra tem dois graus a mais que outros bairros que tem menos árvores, além da questão do nível do mar, que é um outro fator, que vai nos atingir em João Pessoa. Então o Plano vem com a ideia dos municípios serem mais sustentáveis e estarem preparados para a conservação do bioma e trazer uma temperatura mais amena.

Blog: Existem outros municípios na Paraíba que têm interesse no Plano da Mata Atlântica?

Vivian: Sim. Existe o município de Mamanguape, que está em processo de elaboração de seu Plano Mata Atlântica. O município de Cabedelo que assinalou uma vontade, mas não iniciou as atividades. Bayeux já sinalizou o seu interesse, porém, também ainda não começou e ele tem uma grande área para criação de Unidade de Conservação em manguezal.

Blog: Vivian, o projeto ‘Mata Atlântica nas escolas’ deseja a você muito sucesso na defesa de nossa Mata Atlântica lá em Paris.

Vivian Maitê na COY - Conferência para a Juventude, da COP21


Entrevista feita no dia 23 de novembro de 2015. 
Edição: Diôgo Santos.
Para saber sobre a Mata Atlântica na sua cidade, acesse: http://www.aquitemmata.org.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário